sexta-feira, setembro 05, 2008

sábado, agosto 09, 2008

"Perdido en el mundo"

O homem cheirava as pessoas. Disse que tinha aprendido. Por suas andanças por ditaduras, torturas, assassinatos.
Sabia, só de olhar de longe, sentir o cheiro da doçura ou da podridão, do azedume.
De vez em quando falava com a menina, mas era só de passagem e de como estava o tempo. E justo no dia em que ela olhou pela janela e achou jeito de quando vai chover sem ter uma única nuvem no céu e sendo mês de julho, ele lembrou de ser seu sinal divino. Porque o cheiro que sentiu na menina lhe inspirou aproximação e cuidado.
Nesse dia, falou sobre guerra, frio, bruxa do bem e de uma gostosa sopa, fazendo feição de que estava mesmo boa. E fugas e revoluções sem finais felizes. E finalmente, de encontros.
Falou também sobre um tipo de solidão que não existe no mundo jeito de dar fim. Preço alto a se pagar por sentir demais.
E na lágrima emocionada da menina, ele pôde ver a vida agitada que havia dentro dela.
Emprestou seu livro da vida pra menina ler. Mas como era numa língua que ela não lia direito, as palavras começaram a ser decifradas aos poucos.
Ainda há um livro inteiro pela frente.

quarta-feira, julho 09, 2008

Quixotéias

Parte 2 - versão 1.

Tudo bem, a história tem que ter uma continuação. Algo um pouco mais rodrigueano que quixotesco, mas só um pouco, ok? Esqueci que nossos personagens não ganharam nomes. Então, eis os nomes: Elis e Miguel.
E eles até podem se encontrar no Bairro da Liberdade, como você queria. Ahahaha isso acabou se tornando uma metáfora... Um baita clichê.
Ele quer adrenalina. “Pular a cerca”, termo chulo que seria mais apropriado se não tentássemos tanto ver glamour no assunto.
Ele quer novidade e acha que a Internet é o meio mais propício pra isso.
Ela? Ela está precisando mesmo é se sentir viva.
Miguel quer ver Elis. Elis sente uma vontade-curiosidade de ver Miguel, mas resiste. Não é moralista ao considerar o comportamento dos outros, mas no fundo, necessita seguir seus próprios valores morais.
Uma estranha atração começa a surgir aí. Subitamente. “Súbito” é uma palavra que tem rondado minha mente e tenho adorado. E como tal, preciso consultar o dicionário, mesmo que esteja careca de saber o significado. De súbito: o que ocorre ou surge sem ser previsto.
Elis é uma mistura do correto e do incorreto. Do planejado e do impulsivo. Entra no jogo, mas sabe que pode acabar sendo engolida pelo tabuleiro. E o que ela quer é muito mais do que um xeque-mate.
O cuidado precisa ser redobrado. Não pode haver um só pingo de envolvimento. Ela acha que sabe onde está pisando.
Basicamente, Miguel é interessante. Inteligente... quente... aventureiro.
Elis não gosta dos aventureiros... a não ser, é claro, para as aventuras...
Ela gosta dessa mania sua de mudar de idéia e de ser pega pelo próprio gosto que conforme a circunstância muda as papilas gustativas de lugar sem perguntar se pode. Ela começa a pensar rápido demais e isso acaba secando a garganta e a autocensura.
Se algo não estimula o coração não quer dizer que não estimule também o cérebro ou o corpo.
Elis quer brincar. Com fogo. Com água. Na lama. Na cama não. Seria óbvio demais e obviedades não inspiram.
E já que foi escolhida como a musa inspiradora de Miguel, quer ser uma musa de verdade. Embora ele não seja um artista de verdade.
Ela não pode ser igual às outras. Detesta a idéia de ser igual. Quer ser única. Original. Autêntica, embora fruto de uma imaginação fértil.
Original: que não ocorreu nem existiu antes. Autêntico: Genuíno, fidedigno.
Procura-se significados novos para palavras gastas.
O plano é ser como um raio que deixa como vestígio uma árvore derrubada.
Como derrubar Miguel? Elis nem tem uma personalidade destrutiva, semeia a paz e o amor, mas está tão entediada que acha que pode usar Miguel. E é isso mesmo que Miguel quer: ser usado. Diz que se cansou de usar.
Nesta parte da história, o segundo acaso: Elis está na maior livraria da cidade, não está à procura de nada específico, apenas “olhando”, como dizem, e de repente, neste “olhando”, acha Miguel, em meio às estantes. Ele está a uns 6 metros de distância, de mãos dadas com a namorada.
Será que isto já está ficando ao menos um pouco rodrigueano? Mas, bem, como você disse, somos de vanguarda.
Preciso voltar à cena da livraria!
Elis só tem alguns segundos para decidir o que vai fazer...
...

sexta-feira, julho 04, 2008

Amor-clichê...

Pleonasmo vicioso.

sábado, junho 28, 2008

Sabe o que acontece quando duas auras entram em sintonia?

Pesquisas sobre o campo energético humano mostram que as auras mental e etérica de duas pessoas que se amam provocam uma fusão de seus campos sempre que elas se encontram. A energia flui de um para outro, dando a ambas as partes uma sensação de equilíbrio e harmonia.

sábado, junho 21, 2008

De vez em quando Deus me tira a poesia.
Olho pedra, vejo pedra mesmo. (Adélia Prado)

Mas eu sou contraditória. Sempre me contradizendo... Fazer o que, se o que eu quero mesmo é ouvir um bom samba e sambar até a vontade passar...

quarta-feira, junho 11, 2008

Sobre leveza

Ser leve requer muita atenção. Precisa saber respirar. Devagar e profundo. Tem que saber tomar conta das emoções, liberando tudo o que é pesado, tudo o que é obscuro demais. É preciso que se solte toda a amargura do peito, toda a mágoa. Normal sentir uma tristezinha. Raiva dá e passa. Mas tem que deixar ir.
Tem que querer o bem. De verdade. Não apenas para os que passam fome, pra quem dorme na rua, mas para os que estão perto, para os que não parecem merecer. Mesmo que seja difícil demais.

Tem que sentir o coração, lugar abstrato onde as emoções se encontram, que não dá pra tocar, não dá pra ser transplantado de pessoa pra pessoa, mas pode ser regenerado.
Tem que fazer uma limpeza interior, com uma esponja encharcada de autoconsciência. Só você sabe a sujeira que esconde debaixo do tapete das aparências.

Sorria. Com os dentes. Com os olhos. Com a pele.
Sinta o bem-estar de ser uma pessoa leve e delicada. Que transmite isso em todos os movimentos, expressões, sorrisos e palavras. Abrace e beije mais!
Uma aura iluminada e colorida vale mais do que qualquer galeria de arte. Enche os olhos e emociona qualquer alma amortecida.

Uma musiquinha que me faz sentir mais leve:

sábado, maio 31, 2008

Timing

Em meio a gargalhadas de experientes teóricos da vida, uma visão me causa estalos de melancolia inesperada. Meu coração não carrega relógio de pulso. Não tem hora pra bater, nem razão pra parar. Sempre atrasado ou adiantado... Nega-se a acertar o timing.
Cronometram-se as fugas. Camuflam-se as horas de confusão.
Coisas que só entende quem vive brincando de reinventar as próprias dores...

sexta-feira, maio 30, 2008

Sonhadora


Sabe uma sensação que fica quando a gente tem um sonho bom? Ou quando a gente vê um filme tão perfeito que fica impregnado em todos os nossos sinais vitais? É assim que eu tô me sentindo hoje. Só que eu não sei bem porquê. Sei que é por causa desse sonho misterioso que tive. Sonhos às vezes deixam rastros, mas nenhuma prova concreta. Não sei com quem sonhei, sei que foi com alguém... especial. Nããão... não foi um sonho erótico. Não consigo descobrir quem era, só sei que era alguém capaz de despertar meu lado mais doce e bobo de tão feliz.
Acho que meu espírito foi bem longe desta vez. Não é isso que dizem? Que nossos espíritos saem dos corpos enquanto dormimos? Com quem será que o meu se encontrou esta noite? Com sua alma gêmea? E será que esse negócio de alma gêmea existe? Se existir, vou rezar pra que a minha ao menos seja da espécie humana. Porque se for uma planta... Aff, nem Espada de São Jorge... bom, deixa pra lá...
Queria poder escolher com o que sonhar. Poder viver momentos que não vivi e reviver momentos que vivi. Visitar terras distantes, com escalas imprevisíveis, ver gente que já morreu. E gente que ainda vai surgir...
Fazer grandes descobertas...
Os sonhos que tenho são sempre estranhos. Já até sonhei com coisas que aconteceriam depois. Felizmente, isso é raro, já que também sonho muito com coisas que me assustam. Que me deixam com uma quase síndrome do pânico.
Já sonhei com rostos desfigurados e lugares estranhos. Sonhei com gente que ia embora, mesmo sem sentir vontade. Por medo de que seu sorriso despencasse com a cara no chão. Sonhei com lugares que mais tarde eu conheceria, e diria: “Já estive aqui!...”
Por meio de sonho, já até adivinhei o que tava na frente do meu nariz e eu não queria enxergar.
Já sonhei uma semana inteira seguida com o mesmo ator de novela. Não sei porquê. Não era um ator famoso, não era bonito, e não andava atuando. Uma semana inteira sonhando com um ator ruim e feio, sem entender essa obsessão do meu sono R.E.M., fase em que os sonhos acontecem. Vai ver o meu ectoplasma tava saindo às escondidas com o dele.
Enquanto isso, eu tava, literalmente, virando os olhos.
Já tive a época de sonhar com números. Era caneta e papel à cabeceira, porque sonho é assim: bobeou... esqueceu. Uma vez, foram 3 da Mega-sena. Mas acertar 3 números na Mega-sena não dá nem 10 reais. E os meus sonhos nunca me contavam todas as dezenas, só de pirraça. Era só pra ter o gostinho de me ver achando que a sorte estava começando a sorrir pra mim...

Aqui vai uma super sugestão pra quem quer sonhar com os anjos, ou com o que quer que seja...

* Receita para adestrar sonhos:

1. Pensar fixamente no objeto pretendido durante 4 horas ou mais. Sem pausas!
2. Se houver fotos ou quaisquer imagens que remetam à pessoa, lugar, ou solução pretendida, olhar para elas sem piscar durante 15 minutos. Se puder colar no teto, acima da cama, melhor.
3. Escrever o que se quer sonhar num papel colorido, cuspir em cima, e colocar embaixo do travesseiro. (o papel não deve sair de lá enquanto o sonho não vier.)
4. Tem uma música que te traz sensações que quer ter durante o sonho? Aperte o “Repeat” do seu CD player e durma com essa trilha musical.

Se a receita funciona, não posso garantir. Mas sonhar acordado também faz bem pra pele!

terça-feira, maio 27, 2008

Quixotéias: primeiro e único capítulo

Parte 1 (versão 1)

Antes de tudo, quebro teus 2 clichês. O ambiente não é uma repartição pública. Pense num lugar que não existe. A não ser na imaginação. E ela não está lendo o jornal. Ela faz o jornal. Jornalista. Cabelos nos ombros. Sem tintura. Não gosta de maquiagem. É do tipo que se veste com roupas artesanais. Gosta da vida ao natural. Mas não é leve como uma pluma. É feroz. Pavio curto.
Só depois de alguns anos em que o site de relacionamentos orkut esteve em voga, ela resolveu se render. Mas sua página é quase vazia. Poucas palavras para um intenso mundo interior. Tem lá algumas dezenas de amigos. Na foto, o nariz, nem grande nem pequeno, mas bem formado. De pessoa forte e decidida. Metade da boca também aparece. É pequena e levemente carnuda. Parece ser de uma pessoa de bem com a vida. Parece. Na realidade, carrega um tédio que nunca terá fim.
Gosta de deixar scraps para pessoas que admira. E em um desses scraps deixados, é capturada. Alguém de saco cheio do seu dia e sem ter muito o que fazer a adiciona. Sem prestar muita atenção. Diria que apenas deu uma súbita vontade de sair adicionando estranhos. Estranhas, melhor dizendo. Na verdade, não procura suas vítimas aleatoriamente. Detalhes. Algo capaz de criar uma ficção mais interessante em sua vida. Não, não é um maníaco. Nela, sente que está prestes a enxergar o resto do iceberg. Por trás daquele nariz e daquela “meia-boca” há de existir uma personagem para devaneios novos.
Ela, curiosa. Ele, insatisfeito, aventureiro. Ela, depois de dar uma conferida no perfil e não encontrar muitos erros de português, o aceita. Sabe que dará uma faxina geral na sua lista de amigos dali uns dias, então não tem com que se preocupar. Ele, comprometido. E por isso mesmo, um ponto de interrogação e um prato cheio para as observações comportamentais que ela gosta de fazer. Ela é “crônica”, e não poética.
A página dele, diferente da página dela, mostra flashes de uma vida colorida. Um relacionamento cheio de romance. Quase bossa-nova e novela do Manoel Carlos. Praia, crianças, biquíni, chapéu, óculos de sol, amigos. Muitos sorrisos e muitas músicas. Nada que parece perfeito é. Ou talvez seja, mas não nos moldes convencionais.
No mesmo dia, como se existisse um diretor de cinema guiando as cenas da vida só pra se divertir (Quem sabe Deus não é esse cara? Um comediante...), ela o vê num bar, com a namorada e uns amigos. Presta muita atenção pra descobrir se é ele mesmo. A mesa é próxima, ela pode fixar bem o olhar, e ele também a veria se tivesse bebido dois chopes a menos e não estivesse tão distraído em beijos e declarações de amor eterno. A relação do casal realmente é um exemplo de perfeita harmonia. Ele não vê a moça da Internet. E se visse, nem a reconheceria.
Nos dias seguintes, ela começa a receber depoimentos no orkut. Não são propriamente depoimentos, mas quase recadinhos de guardanapos. Garçom invisível. Coisas que se deve ler e jogar fora. Depoimentos que podem comprometê-lo, mas ela não está afim de assumir o papel da doida estopim de fim de relacionamento. Ela tem bom-humor, adora brincar com a vida ao seu redor. E a vida também adora brincar com ela, fazendo jus ao “coisas que só acontecem com você”.
Ele se sente quebrando as regras com esses depoimentos. Uma espécie de sensação de risco. De que pode ser pego a qualquer momento. Apenas em busca de um pouco de emoção. Poderia enviar emails. Seria mais seguro, mais privativo. Mas não. Prefere falar baixinho, sussurrando, por trás das paredes que há entre as opções “aceitar” ou “recusar” que ela clicará depois de ler.
Diálogos. Longos, pequenos, profundos, rasos.
Os dois têm algo em comum: são francos. Transparentes. Falam o que vem à cabeça, sem moralismos hipócritas. Outra coisa em comum que têm é a imaginação fértil e a vontade de criar um mundo paralelo. A vontade de tornar a vida mais interessante catando elementos imprevisíveis e surpreendentes do dia-a-dia, ou mesmo qualquer elemento cotidiano a que ninguém dá o devido valor “estético”, para adicionar como detalhes que façam com que o sangue corra mais rápido e os sentidos fiquem mais aguçados.
Um jogo quase “Proposta Indecente”. Só mesmo um jogo; de invenções, de ficções. Entre o quixotesco e o rodrigueano. Cada um está à procura de algo diferente, mas ninguém chega ao lugar que realmente quer. Se é que sabem onde é esse lugar.
Ela resolve elaborar estratégias e táticas nesse tabuleiro de casas claras e escuras. Se é de distração que ele precisa, é distração que ele vai ter. A partida só começou...

Até que...

segunda-feira, maio 26, 2008

My blueberry nights


Este é o meu filme do mês. Como não tenho a mínima intenção de ser "crítica" de cinema, posso simplesmente dizer: Adorei! O roteiro, a estética, as atuações, a trilha... apesar das comparações que foram feitas com os filmes anteriores do diretor Wong Kar Wai.
Pra mim, é uma viagem de aprendizado, partindo de fora pra dentro, em vez de se mergulhar nas próprias dores. Gosto da cumplicidade que se estabelece entre Jeremy e Lizzie no café, da conversa gostosa entre os dois. E ainda tem um dos melhores beijos de todos os tempos do cinema.

..."In the last few days, I've been learning how to not trust people, and I'm glad I failed. Sometimes we depend on other people as a mirror, to define us and tell us who we are. And each reflection makes me like myself a little more"...


E esta é uma das principais músicas da trilha. Lembrando que Cat Power faz uma participação como atriz, e Norah Jones é a protagonista.

TNT

Madá toma litros de café ouvindo uma música eletrônica vagabunda no último volume; deixa a raiva explodir em gritos e passos de dança descontrolados.
Passa rápido. Ela sabe. É que essa é a sua droga.
Tenta trazer de volta emoções que tiram férias de vez em quando. Essas são suas pílulas da compreensão e da incompreensão.
Então bebe café. Mais café. Como se a agitação fosse fazer cada caco de ira se soltar de seu corpo e se espalhar pelo quarto.
De repente, um estalo a faz começar a rir. Ela não está num sanatório. Percebe que está diante de uma comédia em preto-e-branco. Risos saudáveis.
É que a raiva nunca dura muito. Seu humor muda tão rápido que não dá nem tempo de descobrir os detonadores.
Quando acaba sua sessão descarrego, ela apenas toma um banho frio, e depois coloca a música mais suave e silenciosa que encontra, sentando-se como uma pluma na poltrona velha perto da janela. Quem vê, pensa que flutua.
E de novo ela vai revirar objetos, e de novo ela vai pintar quadros, e de novo ela vai subir os degraus da consciência do mundo, esquecendo todo ego e todo presente. Então ela percebe o quanto precisa de tudo isso pra viver, pra se renovar, e pra rir, mais uma vez, da vida.

quarta-feira, maio 21, 2008

Admirável consumo novo

- Ei, vc aí!
- ...
- Maria Catanduva. É com você mesmo. Aqui em cima dos biscoitos amanteigados.
- Ã??? Uma leitora de código de barras falando comigo?
- Você engordou 3 kg durante esta semana. Está na seção errada. No próximo corredor à direita é que se encontra a seção de dietéticos.
- E como sabe que eu engordei?
- Sabemos tudo sobre qualquer pessoa. Por exemplo: você anda brigando muito com o Tedi, seu marido. Os níveis de ruído andam altíssimos na sua casa. Aproveite para passar na farmácia e levar calmantes.
...(Maria faz uma cara de quem não gostou da invasão de privacidade)...
- E não me olhe com essa cara de abacaxi. Aproveita e leva 3 caixas de pílulas azuis pro seu marido, pra ver se ele te descasca e te cura dessa histeria.

terça-feira, maio 13, 2008

Escolhas e vidas paralelas

A vida é engraçada. Tem tanta coisa no mundo que é até estranho saber que tudo isso existe concomitantemente a nós, independente da nossa vontade e do nosso conhecimento. A Terra continua a girar mesmo que você não saiba que é ela quem gira ao redor do sol, e não o contrário. Numa viagem rápida, me deparei com o que poderia ter sido a minha vida nos últimos anos. E foi uma sensação tão esquisita, e boa, de deslumbramento, que a minha imaginação voou, sentindo que aquela era a “minha” cidade, a “minha” universidade, os “meus” amigos, “meu” clima, “meus” prédios detalhadamente arquitetados, “meu” modo de viver... Não havia arrependimento pelas minhas decisões do passado, nem pena de mim mesma por aquilo que posso ter perdido por causa dessas decisões. Havia sim uma curiosidade, como se eu tivesse vivido uma vida paralela em todo esse tempo. Como se eu voltasse aos meus 17 anos e pudesse ter uma prévia de cada um dos caminhos. Como se eu fosse outra pessoa.
Na verdade, pouca coisa diferente. Os mesmos cabeludos de All Star e mochila murcha... As mesmas pessoas de nariz empinado, e as mesmas de cabeça baixa... Os mesmos professores com ares de intelectual francês... Os mesmos pré-adultos sem ter muito o que fazer, jogando conversa fora pelos corredores... Mas era tudo tão novo! E tão encantador! Recebi até uma cantadinha descarada de um menino. Confesso que adorei a cantadinha descarada. Muito charmosa! Mas eu estava tendenciosa a achar tudo muito charmoso...
A vida é feita de escolhas. Que pressupõem renúncias. É estranho como uma simples decisão tem o poder de mudar tudo. Será que o meu “eu” de hoje seria diferente se houvesse enfrentado a outra opção? No que seria diferente? Teria aprendido outras lições, isso é certo. Mas seriam lições mais ou menos úteis pra vida? Acho que teria me afastado do meu “abrigo” de guerra no tempo errado. Mas agora, essa viagem me fez sentir, mais do nunca, pronta pra me libertar dos laços confortáveis e familiares, e partir em direção ao desconhecido.

Essa pequena viagem bate-e-volta também me trouxe um presente: mais uma pérola pra trilha sonora da minha vida. Trata-se de Nat King Cole, que foi relembrado e cantado durante o trajeto pelos meus companheiros de viagem, que são “daquela época”. Pode ser bem famoso, mas eu nunca tinha ouvido falar. E eu já amava umas músicas dele mesmo antes de saber quem era. Como esta, que faz parte da trilha de “Amor à flor da pele”, um filme chinês bem artístico:

sábado, maio 10, 2008

Quer abotoar o paletó?

Mexendo numas caixas velhas encontrei uma coisa que me fez pensar no quanto se pode ser àtoa no primeiro ano de uma faculdade de Publicidade. Trata-se de um texto apresentado no que chamávamos de “5 minutos”. Alguns até podiam levar a sério, mas pelo jeito, a maioria, como eu, não. A aula acabava virando uma espécie de “Casseta e Planeta” em que muitos chegavam com “revolucionários” produtos e serviços...

Vai com Deus serviços póstumos – porque o que importa é o fim.

Se você anda preocupado com o seu futuro depois que abotoar o paletó, fique tranqüilo. Chegou a “Vai com Deus - serviços póstumos – porque o que importa é o fim.”
O nosso serviço é rápido: buscamos seu corpo minutos após você bater as botas. Primeiro há a preparação do cliente, em que banhos especiais com óleos essenciais e pétalas de rosas deixam sua pele mais macia, e uma posterior massagem proporciona o relaxamento do corpo e da alma.
Oferecemos a você uma completa cirurgia plástica instantânea, com o famoso cirurgião Vivo Pitangui, que te deixará mais bonitinho no seu “Gran Finale”. Você pode, inclusive, ser lipoaspirado, afinal não precisa ser gordinho pra toda a eternidade. Daí as pessoas terão motivo para dizer: “que expressão serena... parece estar sorrindo... com certeza morreu feliz...” E atenção: a cirurgia é 100 % segura, não envolve riscos de morte.
Temos também um serviço opcional à moda dos costumes do Antigo Egito: cortamos a parte preferida do seu corpo, desde que não seja muito grande, e a conservamos em formol. Ela ficará exposta em nosso museu por séculos.
Depois vem a parte do velório, em que profissionais com formação teatral fazem uma encenação, chorando desesperadamente em cima de você. Assim, eles convencem a todos de que a sua partida foi uma perda irreparável. Ah, e o melhor: você poderá escolher o seu ator global preferido como convidado VIP, assim como nos bailes de debutantes. Mas, infelizmente, você não dançará valsa com ele.
Um item fundamental de nossos serviços é o caixão, banhado em ouro e cravejado com diamantes. É grande e confortável, cabendo até 2 pessoas. Conta com sistema de ventilação e telefonia, caso você resolva ressuscitar (neste caso, fazemos o reimplante da parte preferida do seu corpo).
O seu futuro jazigo é 5 estrelas e fica no premiado cemitério “Descanse em paz”. Lá você contará com o inigualável trabalho de seres decompositores especiais, criados em laboratório. Afinal, você não vai querer ser comido por qualquer um.
Depois da passagem pelo túnel de luz, você será recebido num jardim cheio de gente de branco e coelhinhos, onde aguardará a sua próxima viagem, já que também está incluído um pacote turístico ao céu e ao inferno. Assim você conhecerá os melhores pontos turísticos, e poderá escolher o lugar onde vai passar o resto da eternidade. Isso mesmo!! VOCÊ escolhe! (obs.: O nome de nossa empresa não deve interferir na decisão) Ah, nessa viagem você também poderá conhecer, em tardes de autógrafos, seus ídolos que já se foram, , tais como Hitler, Elvis Presley e Madre Teresa de Calcutá.
O preço é sob consulta! Mas a “Vai com Deus serviços póstumos – porque o que importa é o fim” tem certeza de que você não vai reclamar do valor, afinal você não vai levar nem um tostão do seu dinheiro quando passar dessa pra melhor.

A “Vai com Deus serviços póstumos – porque o que importa é o fim” te deseja uma boa morte, quer dizer, boa sorte!

(tinha até um jinglezinho: “Pode tirar o seu time de campo/ pois o nosso caixão é do tamanho de um trem/ presunto igual a você, eu já peguei mais de cem/ pode vir frio e apodrecendo...” Haja humor negro. Mas como dizia aquele mal-educado e egocêntrico italiano, o “Toscão”, a publicidade é um cadáver que nos sorri.)

domingo, maio 04, 2008

Impossível me cansar de ouvir

D´lua

- Você continua na fase kitsch?
- Não, já tô enjoando dessa fase. Mas não se preocupe! Pra fase noir eu não volto tão cedo.
- Mas eu gostava de você na sua fase noir.
- Não não! Preciso inventar outra coisa agora. Algo mais standard.
- Hahaha!! Isso é que é metamorfose ambulante.
- Contradição ambulante, eu diria...

quinta-feira, maio 01, 2008

Significados

Alguns conceitos estão sempre presentes, nos lembrando de presença ou falta, e acabam ganhando um significado diferente para cada pessoa ou circunstância.
Começo pela liberdade. A liberdade é uma coisa que a gente não consegue definir direito. Talvez seja estar do lado de fora de grades e paredes, ter o direito de ir e vir, de falar ou de calar. Talvez seja algo mais ligado à autodeterminação nos caminhos. Mas liberdade total total mesmo ninguém tem. Só em pensamento. O pensamento é livre porque não pertence a ninguém, e não pára. E quanto mais alguém diz: “Não pense nisso”, é nisso que a gente pensa mesmo. No pensamento, as pessoas podem ir aonde quiserem, ser o que quiserem, e ninguém consegue detê-las. Adivinhar a gente até pode, mas ler pensamento é impossível. Uma vez, não resisti a pedir emprestado um livro de nome: “Como ler pensamentos”. Mas não, não consegui ler nem uma vírgula de pensamento, e quase que não consigo ler o livro também de tanto espirrar em cima das páginas amareladas.
Já a saudade, a saudade é como um bichinho. Nasce no peito da gente, lá dentro. E cresce! O bichinho-saudade pode fazer doer, muito ou só um pouquinho, mas pode também trazer uma emoção muito boa, e nesse caso passa a se chamar nostalgia. Saudade pode ser de pessoa, de objeto, ou de um período da vida, como a saudade da infância ou dos tempos da faculdade. Mas a saudade mais estranha de se sentir, é de uma sensação. E essa também pode ser definida como uma saudade de si mesmo. Isso pode acontecer com pessoas que perderam as esperanças e a fé. Aí entra a saudade de esperar, que é mais esquisito ainda. Quem espera carrega uma lamparina. De luz fraquinha, pode se apagar a qualquer momento. Mas vai que a luz elétrica chega...
E aí vem a alegria! A alegria é um sentimento ambíguo. Pode vir da festa e do barulho, de posses e de honras. Nesses casos, o efeito dura pouco, o que gera uma espécie de tolerância química. Precisamos de mais, de mais e de mais, e a satisfação nunca vem. Mas a alegria também pode ser um estado de alma, que acontece quando fazemos as pazes com a vida. E nesse caso a festa é dentro da gente.
Ah, claro! O amor! O amor é o mais importante de todos. Dizem que encontrar o amor é muito difícil! Isso é certo! Mas a verdade é que o amor mesmo, esse sentimento tão nobre, sempre esteve dentro da gente, é só pegar e sentir. E ele pode se reproduzir até alcançar o mundo inteiro. E dá origem à alegria, à liberdade (porque o amor de verdade é sempre libertador), e a uma saudade sem fim e sem dor de cada momento da vida-amor.

terça-feira, abril 29, 2008

Meu pai

- Cris, eu já te dei uma tunda?
- Quê isso, pai?
- Uma coça, uma peia.
- Ã?
- Uma sova...
- Ah... Só de varinha de goiabeira.
- Mentira!
- Sério! Mas foi tão engraçado que em vez de chorar eu ri.

(E não é que tá tudo no Aurélio!?)

quinta-feira, abril 24, 2008

sábado, março 15, 2008

Miro


Miro está exposto ao sol. Um sol que já não sabe se vai ou se fica. Lembra-se de como quisera ser super-herói. Ter superpoderes e voar e salvar os fracos e oprimidos. Sua mãe fez-lhe uma roupa do zorro para que fosse a uma festa. Mas ele ficou com vergonha. Todos os seus amigos estavam vestidos de robôs. Colocou um balde na cabeça e resolveu o problema.
Miro pensa que podia fazer mais. Que podia ter uma existência mais relevante para o universo inteiro, e não apenas para os que o rodeiam. Ser amado pelos amigos e ajudar uma velhinha a atravessar a vida uma vez na rua outra na morte não parecia fazer tanto sentido. Devia mais. Talvez esse pensamento fosse algo tão ou mais impossível que uma utopia. Mesmo assim, o sol, mesmo já bem fraco, parece dizer-lhe que ele poderia ter feito mais.
Seu dente dói. Esqueceu o horário no dentista. E nem avisou. Nesse momento fazer o dentista perder tempo traz uma culpa tão tamanha como se no fundo no fundo fosse culpado por todos os problemas do mundo. E é. E o dente dói mais ainda por isso. E para se redimir, deixa o dente doer. Pagar com dores nos dentes por todos os seus pecados. Moeda duvidosa. Talvez o chicotinho fosse mais eficiente. Miro não está morrendo. Pode fazer muita coisa ainda. Mas, por preguiça, prefere esperar o fim do mundo. E ele tem certeza de que o mundo vai acabar antes de sua morte. E que Ele não volta não. E não tem separação de almas também não. É tudo balela. Na verdade, vira tudo poeira cósmica de novo. (Que contradição! Pra quê tanta dor de dente então?) Pula na piscina que sua cabeça está queimando exposta ao sol fraco das seis e não há balde nenhum por perto dessa vez.

segunda-feira, março 03, 2008

Personalidades de salas de espera

Sêu Leopoldo dorme 2 horas por dia. Diz que odeia dormir. É perda de tempo. “É uma questão de treinamento”, ele diz. Você começa diminuindo 1 hora de sono por semana, e quando se dá conta, percebe que a necessidade de dormir é coisa que colocaram na sua cabeça.
Sêu Leopoldo tem mais de 70 anos e é um dos caras mais cultos que eu conheci nos últimos tempos. Em salas de espera, pega as revistas para ler e quando não consegue memorizar as reportagens naqueles minutos, pede para emprestarem. “Tenho as minhas técnicas de memorização.” Se ler alguma coisa e deixar que as informações se percam, é como se não tivesse lido. Na verdade é o que acontece com todo mundo. Mas Sêu Leopoldo não se contenta com leitura inútil. Não que ele selecione muito o que vai ler. Pra ele, tudo é cultura. Por exemplo: toda vez que o convidam para ir a uma igreja evangélica, ele vai. Para observar. Mas não peça para ele concordar com tudo o que ouve. Sêu Leopoldo já leu sobre praticamente todas as religiões, sabe técnicas de respiração, meditação, receitas naturais para melhorar a saúde. E se você falar sobre algo de que ele nunca tenha ouvido falar, na próxima semana, pode ter certeza: ele já saberá muito sobre o assunto.
Sêu Leopoldo gosta de processos investigatórios. Já fez cursos sobre investigação policial. E diz que tem em casa uma máquina da verdade. Segundo ele, a máquina mede a veracidade dos depoimentos pelo suor das pessoas. Diz que funciona mesmo. Mas como não é de muita serventia para ele, vai doar para uma delegacia.
Essa é a coisa mais importante da vida de Sêu Leopoldo: Adquirir conhecimento. Saber. Ler o mundo à sua volta. E olha que ele não tem curso superior, mas é mais inteligente do que a maioria dos que o tem.

E se eu continuar conhecendo pessoas interessantes como Sêu Leopoldo todos os meses, já terei uma boa parte da riqueza que quero pra minha vida.

sábado, março 01, 2008

Pra você

Tenho algo a dizer pra você, você sabe quem. Você que pode ser qualquer um, e pode ser ninguém. Você já aprendeu um pouco sobre mim, sabe que sou um pouco complicada e esquisita, mas sou de fácil convívio. Sei que ser de fácil convívio não é lá algo muito interessante, mas é bom que você saiba disso agora. Porque eu falo umas verdadezinhas de vez em quando e minha franqueza me impede de ser educadinha o tempo todo, mas ela serve pra que nada fique entalado na garganta obstruindo a alma. Precisa saber que freqüentemente tenho uma cara de não, mas se tiver tempo disponível e olhar com muita delicadeza, vai ver outras três letrinhas piscando nas minhas pupilas dilatadas. Precisa entender que tem que ter paciência com meus distanciamentos e com a minha dificuldade em andar de mãos dadas. Isso tudo é só pra disfarçar e não dar na telha que fico te olhando quando você não tá olhando. Tem que entender também que não pode nunca ser rude comigo, porque isso pode ganhar proporções gigantescas e posso te confundir com um psicopata. Porque sou meio neurótica e sempre encano de achar que fulano é psicopata ou gay.
Eu só preciso que você goste de velhinhos e de crianças, seja espiritualizado, generoso e faça boas ações todos os dias. Que goste de filosofar um pouquinho e tenha uma cara de tristinho de vez em quando, de quem pensa sobre o sentido da vida, mas que tenha uma alegria contagiante e uns olhos brilhantes na maior parte do tempo. Além de ser sensível, não se esqueça de ser bem seguro. Eu gosto de me sentir protegida.
Tudo bem. Eu confesso que não é só isso. Ou que não é tudo isso. É muito mais simples, e muito mais complexo. É abstrato. Talvez uma questão de energia, campo áurico, ou sei lá.
É preciso que cause em mim um sentimento inexplicável, que, eu tenho certeza, poucos nessa vida chegam a sentir de verdade. E mesmo que alguém diga que isso é romantismo, eu posso te garantir que é a mais pura racionalidade, a mais clara lucidez. É preciso que seu sorriso me comova, que seu olhar me emocione. Quero que você vibre com a vida e me faça vibrar com ela também. Que você brilhe em cada palavra dita, em cada suspiro, em cada aceno de mão. Que seja uma pessoa melhor do que eu, mas que também queira aprender um pouco comigo. Que deseje um crescimento contínuo ao meu lado.
Ainda que eu não veja necessidade em andar na moda, não dá pra tentar, como muita gente faz, inventar combinações sem pé nem cabeça e ir empurrando com a barriga pra ver no que dá. O tempo faz com as cores fiquem mais destoantes ainda.
Mas o que eu preciso mesmo te pedir é que não desista de mim quando eu fugir de você, pois assim você corre o risco de perceber que mesmo me escondendo tanto, eu posso ser intensamente presente.

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Para meu eu interior

Hei! Você aí dentro de mim! Por um acaso não estaria louco pra sair e dar uma voltinha? Não quer se ver livre dessas limitações? Porque eu quero te fazer uma proposta. Estou pensando em ser eu mesma de novo, mesmo que por algum tempo. É, eu sei. Aí é mais seguro, não é? Mas já estou sentindo sua falta. Porque sem você eu não pareço mais a mesma pessoa. Eu sei que eu mudei, e não te culpo. A culpa foi toda minha. Fui eu que te deixei aí esquecido. Meus olhos já não brilham como antes. A parte mais pura do meu eu foi embora e me deixou só esqueleto, sem suspiros, sem esperanças. Me tornei seca. E eu que gostava tanto de olhar para o horizonte imaginando um mundo feliz. Que gostava tanto de rir de bobeira. Por instantes achei que tinha perdido minha alma. Os sonhos fugiram e eu nem percebi. Sei também que por um lado isso tudo foi bom, porque foi como se eu tivesse envelhecido vários anos em apenas alguns meses. E a maturidade faz com que a gente enxergue tanta coisa, tanta, que um dia eu te conto direito. Mas, agora, eu prometo tirar você daí e assoprar toda a poeira, todo o ranço. E te dar o ar de que você tanto precisa. Te deixar respirar profundo de novo. E te deixar voltar a ver o mundo por mim, com seus olhos tão superiores. Com essa capacidade maior para cor e brilho.
Mas eu queria te pedir um grande favor. Tira esse peso das minhas costas, tira o pesar da minha mente, rápido, porque preciso urgentemente flutuar. E quando não houver mais nenhuma energia ruim pairando sobre nós, poderemos, juntos, dizer:
“Estou de volta! Inteira!”.

Terapia do ódio

O ódio que a gente mais vê por aí, o mais normal, é o que se confunde com amor. Dizer EU TE ODEIO é o jeito mais estranho, feio e intenso de dizer EU TE AMO.
Quem foi que nunca disse com toda a força da garganta um EU TE ODEIO para a pessoa que mais amava no mundo? Ou pelo menos disse isso em pensamento, quando esta pessoa vivia feliz e alheia à sua existência?
Dizer um EU TE ODEIO é a coisa mais relaxante nesses casos, junto a um palavrão é claro. “Eu te odeio seu F.D.Pii”. Mas todo mundo sabe que não é exatamente isso que se quer dizer. EU TE ODEIO é a frase que mais consegue abafar no peito um amor que se renega. Surge em forma de palavras mágicas, que ditas no tom certo nos tornam mais fortes e livres, independentes. Enquanto a frase oposta nos deixa mais frágeis, expostos, prontos a virar um bonequinho de pano.

Claro que se o ódio for literal, ele causa um mal danado pra quem ouve e principalmente pra quem diz.
Então, melhor mesmo é dizer “Te amo”, “Te adoro”, Te admiro”, etc etc etc....

quinta-feira, janeiro 31, 2008

Promessa é dúvida

O carnaval tá chegando e depois dele vem o ano novo. É só aí que o ano começa mesmo né? Então ainda tá em tempo de fazer a clássica listinha de promessas. Lá vai:

1. Prometo fazer uma reforma tributária no país que seja realmente eficiente;
2. Prometo achar o Bin Laden;
3. Prometo votar só em políticos honestos (kkkkkkkk!!!!);
4. Prometo encontrar a cura do câncer;
5. Prometo acabar com a fome do mundo;
6. Prometo me converter e ficar famosa como cantora gospel (e não é que me fizeram essa profecia?);
7. Prometo não perder nem um Domingo legal do Gugu;
8. Prometo viver mais no mundo real e sair do mundo da lua;
9. Prometo parar de perder tempo escrevendo besteiras.

segunda-feira, setembro 24, 2007

“... Um homem com uma dor é muito mais elegante...”

Já sentiu uma dor que você não consegue identificar onde é? Uma dor só, que toma conta do corpo inteiro, como se fosse uma grande massa amorfa? Você não caiu, não bateu o mindinho na quina da parede, ninguém morreu. E não, você não está apaixonado. Ninguém morreu... morte... acho que é isso... estar vivo dói. Mas você não se mata por isso. Você não tem tendências suicidas. E não é que você queira morrer, é só que você quer ver onde é que essa sua dor quer chegar. Se ela passa ou se ela se define, se ela cria sentido.
Sua dor é egoísta. Ela não toma as dores do mundo para si. É solitária por natureza. Apenas dói. E ao mesmo tempo, sua dor traz prazer. O grande masoquismo da alma, que gosta de doer pra achar que é uma alma profunda. Alguns chamam a isso depressão. Eu não diria. A dor que te acompanha não te faz ficar prostrado na cama, sem comer, sem trabalhar, sem tomar banho. E sem sorrir. Acorda, pula da cama, Bom dia Sol, grandes gargalhadas. E no primeiro espelho que surge em seu caminho você dá de cara com ela, a sua dor. Não, também não é a dor da feiúra. Você até que acha que dá pro gasto. A dor tá no fundo dos olhos, e você nem colocou seus óculos ainda. Daí você encontra uma pessoa legal pelo caminho, e a dor se esconde atrás do seu joelho. Pra depois pular em seus ombros na próxima esquina, causando um peso desgramado. E logo mais, se afogar no copo de suco de clorofila com morango que você toma jurando que é uma pessoa natureba, depois de todos os litros de coca da semana.
E assim corre o dia.
Acho que essas são as regras. A gente tem que matar um pouquinho da dor todos os dias. Como naqueles joguinhos de celular. Você mata os monstrinhos e na fase seguinte estão eles lá de novo. Com a mesma cara, só que multiplicados. Cada fase é mais difícil que a outra, sendo que na fase 1 da vida, a gente chora porque tá cagado. E tem gente que fica cagado pro resto da vida. Mas a gente tá falando de outro tipo de dor.
Você torce pra pular todas as etapas, cheio de ansiedade, O que será que tem no final?
100057 pontos. Parabéns! Você é o novo recordista!

Diálogo preliminar

Ela: - Não me beije ainda.
Ele: - Ainda?
Ela: - É. Preciso de preliminares verbais.
Ele: - (risos)
Ela: - Você não é bom nisso?
Ele: - Claro! Começo pela direita ou pela esquerda?

segunda-feira, agosto 27, 2007

3 irmãos de sangue


“A vida é uma só. Ela é valiosa. O tempo é muito valioso. E nós devemos fazer da vida e do tempo o que melhor nós pudermos, todos os dias”. Essa, para mim, é a fala mais marcante do fundador da Ação da cidadania contra a fome, a miséria e pela vida, no documentário “Três irmãos de sangue”.
Herbert de Souza, o Betinho, Henrique Filho, o Henfil, e Chico Mário. Três personalidades incríveis, que mesmo marcados pelo azar (ou chame cada um como quiser) da doença, ou talvez por isso mesmo, “viveram”, no mais forte significado da palavra. Para si, e para o mundo. Se destacaram na sociologia, no humor e na música, lutando pelos direitos humanos e provando, por diversas vezes, o seu amor pelo Brasil. Com sensibilidade, otimismo, coragem e um grande ideal de liberdade e democracia.
Sabiam, mais do que a maioria de nós, que a morte era certa. Por isso, nem ligavam pra ela. Viviam um dia de cada vez, felizes e intensos.
“Nós devemos fazer da vida e do tempo o que de melhor nós pudermos”.
Saber a gente sabe, mas agir...

quinta-feira, agosto 23, 2007

Espinhos guardados

Ela se joga no sofá. Teve um dia cheio. Os pés inchados se libertam do sapatinho assassino, que só serve pra esmagar seus dedos. Pra que inventaram os sapatos? pra privar os pés da sensação do contato com o chão gelado. Livrá-lo das bactérias e sujeiras. Dos espinhos e pedras. Mas por que não inventaram alguma coisa parecida com isso para protegê-la dos espinhos e pedras da vida? Seria muito, mas muito mais útil.
Peeeem!!! Essa é sua campainha. Visitas não são bem vindas. Quanto mais quando se antecedem de um barulho infernal como esse. Acorda do seu estado letárgico em devaneios:
- É ele! É ele! É ele!
prhhrh...(barulho da porta se abrindo)
- Entrega para a senhora.
- Senhorita.
Um cactus. Visivelmente raro, mas visivelmente um cactus.
Junto, uma espécie de cartão postal. Sem especificações de cidade nem nada. A foto de um deserto. Simplesmente deserto. Lugares áridos são lugares áridos: simplesmente iguais.
E atrás do cartão, letras seguras e independentes:
"Não preciso de água, nem de exposição ao sol. Mas não me esqueça num canto qualquer da sua memória."
Espeta seu dedo. Como se machuca fácil.

terça-feira, agosto 14, 2007

Cyrano de Bergerac


Ele tem buracos na cara. Marcas de espinhas. Um nariz bem redondo e bem grande, de batata mesmo. Boca entortada pra baixo e olhos de gente ruim. Ele causa repugnância.
Ele tá sentado, no bar, sozinho. Olha muito pra baixo. Ele bebe cerveja.
Olha obsessivamente para a moça ao lado.
Ela está entediada, mas finge sorrir.
Ela sobe as escadas. Senta-se num pufe, tem um espelho na frente.
Ele sobe também. Passa por ela.
Depois volta. E diz, com voz de locutor de rádio:
“Eu não queria te cantar. Longe de mim. Você tem uma poesia tão linda no seu rosto. Não deixe ela se perder. Não deixe.”
Vira-se e vai embora.
E por um instante, ela se lembra de Cyrano de Bergerac.

quinta-feira, agosto 09, 2007

Minha mãe


“Pode contar comigo pra qualquer coisa. Aconteceu alguma coisa? Pode me contar. Você tá com algum problema?” Essa minha mãe é maluca mesmo. Ela diz isso com a certeza de que eu nunca diria algo do tipo tô grávida ou matei alguém. Se fosse algo assim, claro que ela me apoiaria também, não sem antes encher meu saco e brigar daquele jeito tão irritante e insuportavelmente repetitivo, que mais parece um disco furado. (Parece até quando eu era criança e ela falava: pode sair do banheiro, eu não vou te bater não. E quando saia, era chinelada, Rider, na certa.) Mas agora ela sempre diz isso esperando que eu finalmente me abra e diga que estou apaixonada e sofrendo de amores, ou que seja mais uma das minhas crises existenciais, que eu não sei se ela sabe, mas eu só tenho perto dela. Porque sei que ela é a única capaz de realmente se preocupar comigo. Mãe é a única pessoa capaz de deixar suas coisas pessoais de lado pra nos dar atenção. Só ela é capaz de detectar a quilômetros quando não estou bem. O que seria de mim sem ela? Pai, me desculpe, mas a minha mãe é a pessoa que eu mais amo no mundo.
Ela tem muitas peculiaridades. Me sinto a mais sortuda do mundo por ser filha dela, e não de uma de minhas tias, ou de qualquer outra mãe que eu conheço. De ser filha da ovelha negra da família, aquela da qual as gargalhadas escandalosas causavam vergonha nas outras. Aquela que come deitada no sofá. Que come com as mãos enquanto os talheres ficam encostados no prato. Que parece índio, andando pelado por aí. Que parece criança. Que belisca besteiras o tempo inteiro, enquanto as outras irmãs tem hora pra tudo, cardápio adequado e lugar certo pra cada verdura e legume no prato. “Dina é fomenta.” Dizia minha avó com seu sotaque nipoenrolado.
Minha mãe já fez meditação com uns mantras muito esquisitos, tomou chazinho de colgumelo no Santo D’aime e quase morreu, praticou seicho-no-ie, mexeu com rosa-cruz, umbanda, pai de santo, quase morreu de novo e jura de pés juntos que foi obra de macumbaria. De repente, virou crente. Ela não quer que a gente fique espalhando isso por aí, mas a verdade é que agora ela vai orar em alguma igreja todo dia. Parece até que tá de rolo com um pastor. E sua frase preferida agora é: “Sangue de Jesus tem poder”. Ela já me fez rir muito, na verdade somos companheiras de crises de risos. Morro de rir quando tento ensiná-la a usar o celular e ela sempre diz que eu não tenho paciência pra explicar, e agora morro de rir, e ela também, das suas tentativas frustradas e hilariantes de fazer orações, com todo o barulho que o evangélico tem direito.
Ela já colocou silicone nos peitos, já fez massagens e mais massagens redutoras pra depois encher a cara de doces, já fez bronzeado artificial só com fita crepe grudada no corpo, já foi passear na moto BMW de um cara que conheceu num bar. Nunca foi muito de seguir convenções e obrigações sociais, nem de fazer nada que não estivesse com vontade, só por educação. E isso eu acabei aprendendo um pouco com ela. Mas sempre foi muito querida por todos, e nunca foi de deixar a peteca cair. Com uma força sobrenatural, e uma ajuda oculta, vinda sei lá de onde, sempre conseguiu resolver seus problemas com bom humor.
Entre as minhas melhores lembranças de infância, estão o barulho do carro dela chegando na garagem, que eu reconhecia de longe, na hora da novela das 6. A roupa branquinha, o cheiro característico de material odontológico. Cheiro de mãe. A bolsa sempre cheia de balinhas e chocolates ganhados dos pacientes. E a minha mais antiga lembrança: ela entrando pelo portão de casa com uma bandeja de iogurte nas mãos. Chambinho vermelho e verde. Juro que lembro disso, eu devia ter 1 ano e fiquei muito feliz. Lembro de caber certinho no vão da estante amarela do consultório. Lembro também das surras duplas que eu levava quando ia brincar de lutinha com o Marquinho, meu irmão mais velho, em cima da cama dela. Apanhava dele, e depois dela. E chorava, chorava, chorava. Como eu era chorona.
Me lembro do dia em que ela se escondeu debaixo da cama pra me dar um susto, sendo que ela morre de dor nas costas, e do dia em que, com mais ou menos 10 anos, perguntei pra ela o que era orgasmo. E ela, tentando ser o mais natural e aberta possível, quase encenou um na minha frente. É que eu tinha visto um depoimento na capa de uma revista: “Descobri o que era orgasmo aos 60 anos”. Eu descobri aos 10, muito assustada. Se dependesse daquilo, nunca iria querer ter um. Quase morri de constrangimento. Então tá, né! Orgasmo então é como um ataque epilético... ahn...
1 metro e meio de gostosura pura, minha mãe nunca foi de academia, morre de preguiça de fazer exercício, mas sempre fez ginástica pra papada e uns estralos na coluna muito engraçados. Uma peça a Dra. Alcedina, uma pessoa e tanto. Que serve até de psicóloga de vez em quando. Coitada, tem gente que acha que seu ouvido é pinico, liga e fica horas despejando os problemas em cima dela. Porque sabem que ela sempre tem as palavras certas, o jeito certo, o tom de voz mais gostoso.
E por mais que eu saiba o quanto eu preciso ser independente, é muito bom saber que alguém me ama tão incondicionalmente e que vai estar sempre ao meu lado. E por enquanto, vou aproveitando a incrível sensação de proteção e a ótima companhia da minha mãe. Sinto muito, mas jogaram a fôrma fora. Mãe igual à minha só tem uma.

sexta-feira, agosto 03, 2007

Osho


"Não há nenhum caminho, nenhum lugar para se ir,
nenhum conselheiro, nenhum professor, nenhum mestre.
Parece difícil, parece áspero, mas estou fazendo isso porque amo vocês e
as pessoas que não fizeram isso, não amaram vocês de jeito algum.
Eles amaram a eles mesmos e amaram ter uma grande multidão ao redor deles
– quanto maior a multidão, mais eles se sentiam nutridos em seus egos.
Eis porque chamei à própria iluminação de o último jogo.
Quanto mais cedo você abandoná-lo, melhor.
Porque não apenas simplesmente ser?
Porque desnecessariamente correr pra cá e pra lá?
Você é o que a existência quer que você seja.
Então relaxe."
Osho

segunda-feira, julho 23, 2007

Eutanásia do coração

Se algo já está praticamente morto, por que não desligar os aparelhos?