quinta-feira, janeiro 04, 2007

Resgate


Não venha me dizer que eu compro demais, que eu estou endividada, que eu tenho dezenas de pares de sapatos e só dois pés. As minhas dívidas são maiores do que você pensa. As minhas dívidas são com o além. Dívidas por não ter me dado o bastante pra vida. A vida só se dá pra quem se deu, como o Vinícius disse. Adquiro bens que me valem uma vida, uma outra vida, bem longe daqui. Parcelo em 100 anos. Acho que vou morrer antes disso. E tenho um medo desgramado de morrer sem nunca ter tido um graande amor. Dane-se. E a minha missão, será que existe alguma? Já tenho o peso nas costas por nunca perceber na hora certa que eu devia ter ajudado alguém. É sempre depois, quando esse alguém já sumiu desse sonho, ou desse pesadelo. É, eu vivo na sociedade de consumo. Consumo “porquês”, consumo olhares tão raros nesses dias, consumo as contas a pagar por todos os tempos perdidos do mundo. Cultura do desperdício... Deixe-me ficar mais. A intensidade do sonho é o que vale. A loucura de se transformar num ser humano. “Esqueci de te dizer que além do medo, havia o mundo”. O importante é não se perder em razões inúteis de seres que seguem regras e religiões. Siga apenas vivendo... porque o amanhã... O amanhã não existe mais. Não importa. Explore os limites de seu corpo e alma. Não existe a política, não existe a sujeira, não existe a morte. Aliás, enfiei na cabeça que estou pra morrer, mas ninguém acredita em mim. Então acho que isso significa que estou renascendo. Acho que vou começar a levitar. Não, não estou drogada. Até já experimentei aquela merda e é a coisa mais fedida que existe. Não senti nada além de uma dor de cabeça que ameaçou explodir os meus miolos.
Vou levitar porque algum poder extraterrestre eu devo ter. Eu não sou daqui não. Tá bom... pode dizer que eu sou louca. Já me explicaram que todo mundo é. Ser louco é que é normal...