sábado, maio 31, 2008

Timing

Em meio a gargalhadas de experientes teóricos da vida, uma visão me causa estalos de melancolia inesperada. Meu coração não carrega relógio de pulso. Não tem hora pra bater, nem razão pra parar. Sempre atrasado ou adiantado... Nega-se a acertar o timing.
Cronometram-se as fugas. Camuflam-se as horas de confusão.
Coisas que só entende quem vive brincando de reinventar as próprias dores...

sexta-feira, maio 30, 2008

Sonhadora


Sabe uma sensação que fica quando a gente tem um sonho bom? Ou quando a gente vê um filme tão perfeito que fica impregnado em todos os nossos sinais vitais? É assim que eu tô me sentindo hoje. Só que eu não sei bem porquê. Sei que é por causa desse sonho misterioso que tive. Sonhos às vezes deixam rastros, mas nenhuma prova concreta. Não sei com quem sonhei, sei que foi com alguém... especial. Nããão... não foi um sonho erótico. Não consigo descobrir quem era, só sei que era alguém capaz de despertar meu lado mais doce e bobo de tão feliz.
Acho que meu espírito foi bem longe desta vez. Não é isso que dizem? Que nossos espíritos saem dos corpos enquanto dormimos? Com quem será que o meu se encontrou esta noite? Com sua alma gêmea? E será que esse negócio de alma gêmea existe? Se existir, vou rezar pra que a minha ao menos seja da espécie humana. Porque se for uma planta... Aff, nem Espada de São Jorge... bom, deixa pra lá...
Queria poder escolher com o que sonhar. Poder viver momentos que não vivi e reviver momentos que vivi. Visitar terras distantes, com escalas imprevisíveis, ver gente que já morreu. E gente que ainda vai surgir...
Fazer grandes descobertas...
Os sonhos que tenho são sempre estranhos. Já até sonhei com coisas que aconteceriam depois. Felizmente, isso é raro, já que também sonho muito com coisas que me assustam. Que me deixam com uma quase síndrome do pânico.
Já sonhei com rostos desfigurados e lugares estranhos. Sonhei com gente que ia embora, mesmo sem sentir vontade. Por medo de que seu sorriso despencasse com a cara no chão. Sonhei com lugares que mais tarde eu conheceria, e diria: “Já estive aqui!...”
Por meio de sonho, já até adivinhei o que tava na frente do meu nariz e eu não queria enxergar.
Já sonhei uma semana inteira seguida com o mesmo ator de novela. Não sei porquê. Não era um ator famoso, não era bonito, e não andava atuando. Uma semana inteira sonhando com um ator ruim e feio, sem entender essa obsessão do meu sono R.E.M., fase em que os sonhos acontecem. Vai ver o meu ectoplasma tava saindo às escondidas com o dele.
Enquanto isso, eu tava, literalmente, virando os olhos.
Já tive a época de sonhar com números. Era caneta e papel à cabeceira, porque sonho é assim: bobeou... esqueceu. Uma vez, foram 3 da Mega-sena. Mas acertar 3 números na Mega-sena não dá nem 10 reais. E os meus sonhos nunca me contavam todas as dezenas, só de pirraça. Era só pra ter o gostinho de me ver achando que a sorte estava começando a sorrir pra mim...

Aqui vai uma super sugestão pra quem quer sonhar com os anjos, ou com o que quer que seja...

* Receita para adestrar sonhos:

1. Pensar fixamente no objeto pretendido durante 4 horas ou mais. Sem pausas!
2. Se houver fotos ou quaisquer imagens que remetam à pessoa, lugar, ou solução pretendida, olhar para elas sem piscar durante 15 minutos. Se puder colar no teto, acima da cama, melhor.
3. Escrever o que se quer sonhar num papel colorido, cuspir em cima, e colocar embaixo do travesseiro. (o papel não deve sair de lá enquanto o sonho não vier.)
4. Tem uma música que te traz sensações que quer ter durante o sonho? Aperte o “Repeat” do seu CD player e durma com essa trilha musical.

Se a receita funciona, não posso garantir. Mas sonhar acordado também faz bem pra pele!

terça-feira, maio 27, 2008

Quixotéias: primeiro e único capítulo

Parte 1 (versão 1)

Antes de tudo, quebro teus 2 clichês. O ambiente não é uma repartição pública. Pense num lugar que não existe. A não ser na imaginação. E ela não está lendo o jornal. Ela faz o jornal. Jornalista. Cabelos nos ombros. Sem tintura. Não gosta de maquiagem. É do tipo que se veste com roupas artesanais. Gosta da vida ao natural. Mas não é leve como uma pluma. É feroz. Pavio curto.
Só depois de alguns anos em que o site de relacionamentos orkut esteve em voga, ela resolveu se render. Mas sua página é quase vazia. Poucas palavras para um intenso mundo interior. Tem lá algumas dezenas de amigos. Na foto, o nariz, nem grande nem pequeno, mas bem formado. De pessoa forte e decidida. Metade da boca também aparece. É pequena e levemente carnuda. Parece ser de uma pessoa de bem com a vida. Parece. Na realidade, carrega um tédio que nunca terá fim.
Gosta de deixar scraps para pessoas que admira. E em um desses scraps deixados, é capturada. Alguém de saco cheio do seu dia e sem ter muito o que fazer a adiciona. Sem prestar muita atenção. Diria que apenas deu uma súbita vontade de sair adicionando estranhos. Estranhas, melhor dizendo. Na verdade, não procura suas vítimas aleatoriamente. Detalhes. Algo capaz de criar uma ficção mais interessante em sua vida. Não, não é um maníaco. Nela, sente que está prestes a enxergar o resto do iceberg. Por trás daquele nariz e daquela “meia-boca” há de existir uma personagem para devaneios novos.
Ela, curiosa. Ele, insatisfeito, aventureiro. Ela, depois de dar uma conferida no perfil e não encontrar muitos erros de português, o aceita. Sabe que dará uma faxina geral na sua lista de amigos dali uns dias, então não tem com que se preocupar. Ele, comprometido. E por isso mesmo, um ponto de interrogação e um prato cheio para as observações comportamentais que ela gosta de fazer. Ela é “crônica”, e não poética.
A página dele, diferente da página dela, mostra flashes de uma vida colorida. Um relacionamento cheio de romance. Quase bossa-nova e novela do Manoel Carlos. Praia, crianças, biquíni, chapéu, óculos de sol, amigos. Muitos sorrisos e muitas músicas. Nada que parece perfeito é. Ou talvez seja, mas não nos moldes convencionais.
No mesmo dia, como se existisse um diretor de cinema guiando as cenas da vida só pra se divertir (Quem sabe Deus não é esse cara? Um comediante...), ela o vê num bar, com a namorada e uns amigos. Presta muita atenção pra descobrir se é ele mesmo. A mesa é próxima, ela pode fixar bem o olhar, e ele também a veria se tivesse bebido dois chopes a menos e não estivesse tão distraído em beijos e declarações de amor eterno. A relação do casal realmente é um exemplo de perfeita harmonia. Ele não vê a moça da Internet. E se visse, nem a reconheceria.
Nos dias seguintes, ela começa a receber depoimentos no orkut. Não são propriamente depoimentos, mas quase recadinhos de guardanapos. Garçom invisível. Coisas que se deve ler e jogar fora. Depoimentos que podem comprometê-lo, mas ela não está afim de assumir o papel da doida estopim de fim de relacionamento. Ela tem bom-humor, adora brincar com a vida ao seu redor. E a vida também adora brincar com ela, fazendo jus ao “coisas que só acontecem com você”.
Ele se sente quebrando as regras com esses depoimentos. Uma espécie de sensação de risco. De que pode ser pego a qualquer momento. Apenas em busca de um pouco de emoção. Poderia enviar emails. Seria mais seguro, mais privativo. Mas não. Prefere falar baixinho, sussurrando, por trás das paredes que há entre as opções “aceitar” ou “recusar” que ela clicará depois de ler.
Diálogos. Longos, pequenos, profundos, rasos.
Os dois têm algo em comum: são francos. Transparentes. Falam o que vem à cabeça, sem moralismos hipócritas. Outra coisa em comum que têm é a imaginação fértil e a vontade de criar um mundo paralelo. A vontade de tornar a vida mais interessante catando elementos imprevisíveis e surpreendentes do dia-a-dia, ou mesmo qualquer elemento cotidiano a que ninguém dá o devido valor “estético”, para adicionar como detalhes que façam com que o sangue corra mais rápido e os sentidos fiquem mais aguçados.
Um jogo quase “Proposta Indecente”. Só mesmo um jogo; de invenções, de ficções. Entre o quixotesco e o rodrigueano. Cada um está à procura de algo diferente, mas ninguém chega ao lugar que realmente quer. Se é que sabem onde é esse lugar.
Ela resolve elaborar estratégias e táticas nesse tabuleiro de casas claras e escuras. Se é de distração que ele precisa, é distração que ele vai ter. A partida só começou...

Até que...

segunda-feira, maio 26, 2008

My blueberry nights


Este é o meu filme do mês. Como não tenho a mínima intenção de ser "crítica" de cinema, posso simplesmente dizer: Adorei! O roteiro, a estética, as atuações, a trilha... apesar das comparações que foram feitas com os filmes anteriores do diretor Wong Kar Wai.
Pra mim, é uma viagem de aprendizado, partindo de fora pra dentro, em vez de se mergulhar nas próprias dores. Gosto da cumplicidade que se estabelece entre Jeremy e Lizzie no café, da conversa gostosa entre os dois. E ainda tem um dos melhores beijos de todos os tempos do cinema.

..."In the last few days, I've been learning how to not trust people, and I'm glad I failed. Sometimes we depend on other people as a mirror, to define us and tell us who we are. And each reflection makes me like myself a little more"...


E esta é uma das principais músicas da trilha. Lembrando que Cat Power faz uma participação como atriz, e Norah Jones é a protagonista.

TNT

Madá toma litros de café ouvindo uma música eletrônica vagabunda no último volume; deixa a raiva explodir em gritos e passos de dança descontrolados.
Passa rápido. Ela sabe. É que essa é a sua droga.
Tenta trazer de volta emoções que tiram férias de vez em quando. Essas são suas pílulas da compreensão e da incompreensão.
Então bebe café. Mais café. Como se a agitação fosse fazer cada caco de ira se soltar de seu corpo e se espalhar pelo quarto.
De repente, um estalo a faz começar a rir. Ela não está num sanatório. Percebe que está diante de uma comédia em preto-e-branco. Risos saudáveis.
É que a raiva nunca dura muito. Seu humor muda tão rápido que não dá nem tempo de descobrir os detonadores.
Quando acaba sua sessão descarrego, ela apenas toma um banho frio, e depois coloca a música mais suave e silenciosa que encontra, sentando-se como uma pluma na poltrona velha perto da janela. Quem vê, pensa que flutua.
E de novo ela vai revirar objetos, e de novo ela vai pintar quadros, e de novo ela vai subir os degraus da consciência do mundo, esquecendo todo ego e todo presente. Então ela percebe o quanto precisa de tudo isso pra viver, pra se renovar, e pra rir, mais uma vez, da vida.

quarta-feira, maio 21, 2008

Admirável consumo novo

- Ei, vc aí!
- ...
- Maria Catanduva. É com você mesmo. Aqui em cima dos biscoitos amanteigados.
- Ã??? Uma leitora de código de barras falando comigo?
- Você engordou 3 kg durante esta semana. Está na seção errada. No próximo corredor à direita é que se encontra a seção de dietéticos.
- E como sabe que eu engordei?
- Sabemos tudo sobre qualquer pessoa. Por exemplo: você anda brigando muito com o Tedi, seu marido. Os níveis de ruído andam altíssimos na sua casa. Aproveite para passar na farmácia e levar calmantes.
...(Maria faz uma cara de quem não gostou da invasão de privacidade)...
- E não me olhe com essa cara de abacaxi. Aproveita e leva 3 caixas de pílulas azuis pro seu marido, pra ver se ele te descasca e te cura dessa histeria.

terça-feira, maio 13, 2008

Escolhas e vidas paralelas

A vida é engraçada. Tem tanta coisa no mundo que é até estranho saber que tudo isso existe concomitantemente a nós, independente da nossa vontade e do nosso conhecimento. A Terra continua a girar mesmo que você não saiba que é ela quem gira ao redor do sol, e não o contrário. Numa viagem rápida, me deparei com o que poderia ter sido a minha vida nos últimos anos. E foi uma sensação tão esquisita, e boa, de deslumbramento, que a minha imaginação voou, sentindo que aquela era a “minha” cidade, a “minha” universidade, os “meus” amigos, “meu” clima, “meus” prédios detalhadamente arquitetados, “meu” modo de viver... Não havia arrependimento pelas minhas decisões do passado, nem pena de mim mesma por aquilo que posso ter perdido por causa dessas decisões. Havia sim uma curiosidade, como se eu tivesse vivido uma vida paralela em todo esse tempo. Como se eu voltasse aos meus 17 anos e pudesse ter uma prévia de cada um dos caminhos. Como se eu fosse outra pessoa.
Na verdade, pouca coisa diferente. Os mesmos cabeludos de All Star e mochila murcha... As mesmas pessoas de nariz empinado, e as mesmas de cabeça baixa... Os mesmos professores com ares de intelectual francês... Os mesmos pré-adultos sem ter muito o que fazer, jogando conversa fora pelos corredores... Mas era tudo tão novo! E tão encantador! Recebi até uma cantadinha descarada de um menino. Confesso que adorei a cantadinha descarada. Muito charmosa! Mas eu estava tendenciosa a achar tudo muito charmoso...
A vida é feita de escolhas. Que pressupõem renúncias. É estranho como uma simples decisão tem o poder de mudar tudo. Será que o meu “eu” de hoje seria diferente se houvesse enfrentado a outra opção? No que seria diferente? Teria aprendido outras lições, isso é certo. Mas seriam lições mais ou menos úteis pra vida? Acho que teria me afastado do meu “abrigo” de guerra no tempo errado. Mas agora, essa viagem me fez sentir, mais do nunca, pronta pra me libertar dos laços confortáveis e familiares, e partir em direção ao desconhecido.

Essa pequena viagem bate-e-volta também me trouxe um presente: mais uma pérola pra trilha sonora da minha vida. Trata-se de Nat King Cole, que foi relembrado e cantado durante o trajeto pelos meus companheiros de viagem, que são “daquela época”. Pode ser bem famoso, mas eu nunca tinha ouvido falar. E eu já amava umas músicas dele mesmo antes de saber quem era. Como esta, que faz parte da trilha de “Amor à flor da pele”, um filme chinês bem artístico:

sábado, maio 10, 2008

Quer abotoar o paletó?

Mexendo numas caixas velhas encontrei uma coisa que me fez pensar no quanto se pode ser àtoa no primeiro ano de uma faculdade de Publicidade. Trata-se de um texto apresentado no que chamávamos de “5 minutos”. Alguns até podiam levar a sério, mas pelo jeito, a maioria, como eu, não. A aula acabava virando uma espécie de “Casseta e Planeta” em que muitos chegavam com “revolucionários” produtos e serviços...

Vai com Deus serviços póstumos – porque o que importa é o fim.

Se você anda preocupado com o seu futuro depois que abotoar o paletó, fique tranqüilo. Chegou a “Vai com Deus - serviços póstumos – porque o que importa é o fim.”
O nosso serviço é rápido: buscamos seu corpo minutos após você bater as botas. Primeiro há a preparação do cliente, em que banhos especiais com óleos essenciais e pétalas de rosas deixam sua pele mais macia, e uma posterior massagem proporciona o relaxamento do corpo e da alma.
Oferecemos a você uma completa cirurgia plástica instantânea, com o famoso cirurgião Vivo Pitangui, que te deixará mais bonitinho no seu “Gran Finale”. Você pode, inclusive, ser lipoaspirado, afinal não precisa ser gordinho pra toda a eternidade. Daí as pessoas terão motivo para dizer: “que expressão serena... parece estar sorrindo... com certeza morreu feliz...” E atenção: a cirurgia é 100 % segura, não envolve riscos de morte.
Temos também um serviço opcional à moda dos costumes do Antigo Egito: cortamos a parte preferida do seu corpo, desde que não seja muito grande, e a conservamos em formol. Ela ficará exposta em nosso museu por séculos.
Depois vem a parte do velório, em que profissionais com formação teatral fazem uma encenação, chorando desesperadamente em cima de você. Assim, eles convencem a todos de que a sua partida foi uma perda irreparável. Ah, e o melhor: você poderá escolher o seu ator global preferido como convidado VIP, assim como nos bailes de debutantes. Mas, infelizmente, você não dançará valsa com ele.
Um item fundamental de nossos serviços é o caixão, banhado em ouro e cravejado com diamantes. É grande e confortável, cabendo até 2 pessoas. Conta com sistema de ventilação e telefonia, caso você resolva ressuscitar (neste caso, fazemos o reimplante da parte preferida do seu corpo).
O seu futuro jazigo é 5 estrelas e fica no premiado cemitério “Descanse em paz”. Lá você contará com o inigualável trabalho de seres decompositores especiais, criados em laboratório. Afinal, você não vai querer ser comido por qualquer um.
Depois da passagem pelo túnel de luz, você será recebido num jardim cheio de gente de branco e coelhinhos, onde aguardará a sua próxima viagem, já que também está incluído um pacote turístico ao céu e ao inferno. Assim você conhecerá os melhores pontos turísticos, e poderá escolher o lugar onde vai passar o resto da eternidade. Isso mesmo!! VOCÊ escolhe! (obs.: O nome de nossa empresa não deve interferir na decisão) Ah, nessa viagem você também poderá conhecer, em tardes de autógrafos, seus ídolos que já se foram, , tais como Hitler, Elvis Presley e Madre Teresa de Calcutá.
O preço é sob consulta! Mas a “Vai com Deus serviços póstumos – porque o que importa é o fim” tem certeza de que você não vai reclamar do valor, afinal você não vai levar nem um tostão do seu dinheiro quando passar dessa pra melhor.

A “Vai com Deus serviços póstumos – porque o que importa é o fim” te deseja uma boa morte, quer dizer, boa sorte!

(tinha até um jinglezinho: “Pode tirar o seu time de campo/ pois o nosso caixão é do tamanho de um trem/ presunto igual a você, eu já peguei mais de cem/ pode vir frio e apodrecendo...” Haja humor negro. Mas como dizia aquele mal-educado e egocêntrico italiano, o “Toscão”, a publicidade é um cadáver que nos sorri.)

domingo, maio 04, 2008

Impossível me cansar de ouvir

D´lua

- Você continua na fase kitsch?
- Não, já tô enjoando dessa fase. Mas não se preocupe! Pra fase noir eu não volto tão cedo.
- Mas eu gostava de você na sua fase noir.
- Não não! Preciso inventar outra coisa agora. Algo mais standard.
- Hahaha!! Isso é que é metamorfose ambulante.
- Contradição ambulante, eu diria...

quinta-feira, maio 01, 2008

Significados

Alguns conceitos estão sempre presentes, nos lembrando de presença ou falta, e acabam ganhando um significado diferente para cada pessoa ou circunstância.
Começo pela liberdade. A liberdade é uma coisa que a gente não consegue definir direito. Talvez seja estar do lado de fora de grades e paredes, ter o direito de ir e vir, de falar ou de calar. Talvez seja algo mais ligado à autodeterminação nos caminhos. Mas liberdade total total mesmo ninguém tem. Só em pensamento. O pensamento é livre porque não pertence a ninguém, e não pára. E quanto mais alguém diz: “Não pense nisso”, é nisso que a gente pensa mesmo. No pensamento, as pessoas podem ir aonde quiserem, ser o que quiserem, e ninguém consegue detê-las. Adivinhar a gente até pode, mas ler pensamento é impossível. Uma vez, não resisti a pedir emprestado um livro de nome: “Como ler pensamentos”. Mas não, não consegui ler nem uma vírgula de pensamento, e quase que não consigo ler o livro também de tanto espirrar em cima das páginas amareladas.
Já a saudade, a saudade é como um bichinho. Nasce no peito da gente, lá dentro. E cresce! O bichinho-saudade pode fazer doer, muito ou só um pouquinho, mas pode também trazer uma emoção muito boa, e nesse caso passa a se chamar nostalgia. Saudade pode ser de pessoa, de objeto, ou de um período da vida, como a saudade da infância ou dos tempos da faculdade. Mas a saudade mais estranha de se sentir, é de uma sensação. E essa também pode ser definida como uma saudade de si mesmo. Isso pode acontecer com pessoas que perderam as esperanças e a fé. Aí entra a saudade de esperar, que é mais esquisito ainda. Quem espera carrega uma lamparina. De luz fraquinha, pode se apagar a qualquer momento. Mas vai que a luz elétrica chega...
E aí vem a alegria! A alegria é um sentimento ambíguo. Pode vir da festa e do barulho, de posses e de honras. Nesses casos, o efeito dura pouco, o que gera uma espécie de tolerância química. Precisamos de mais, de mais e de mais, e a satisfação nunca vem. Mas a alegria também pode ser um estado de alma, que acontece quando fazemos as pazes com a vida. E nesse caso a festa é dentro da gente.
Ah, claro! O amor! O amor é o mais importante de todos. Dizem que encontrar o amor é muito difícil! Isso é certo! Mas a verdade é que o amor mesmo, esse sentimento tão nobre, sempre esteve dentro da gente, é só pegar e sentir. E ele pode se reproduzir até alcançar o mundo inteiro. E dá origem à alegria, à liberdade (porque o amor de verdade é sempre libertador), e a uma saudade sem fim e sem dor de cada momento da vida-amor.