sábado, agosto 09, 2008

"Perdido en el mundo"

O homem cheirava as pessoas. Disse que tinha aprendido. Por suas andanças por ditaduras, torturas, assassinatos.
Sabia, só de olhar de longe, sentir o cheiro da doçura ou da podridão, do azedume.
De vez em quando falava com a menina, mas era só de passagem e de como estava o tempo. E justo no dia em que ela olhou pela janela e achou jeito de quando vai chover sem ter uma única nuvem no céu e sendo mês de julho, ele lembrou de ser seu sinal divino. Porque o cheiro que sentiu na menina lhe inspirou aproximação e cuidado.
Nesse dia, falou sobre guerra, frio, bruxa do bem e de uma gostosa sopa, fazendo feição de que estava mesmo boa. E fugas e revoluções sem finais felizes. E finalmente, de encontros.
Falou também sobre um tipo de solidão que não existe no mundo jeito de dar fim. Preço alto a se pagar por sentir demais.
E na lágrima emocionada da menina, ele pôde ver a vida agitada que havia dentro dela.
Emprestou seu livro da vida pra menina ler. Mas como era numa língua que ela não lia direito, as palavras começaram a ser decifradas aos poucos.
Ainda há um livro inteiro pela frente.