quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Odeio esse texto

Encontrei o cara perfeito. Feito pra mim. Quer dizer, tudo a ver comigo e com o que eu pensava que procurava. Ele tem as mesmas opiniões que eu. Os mesmos interesses e gostos. Medita e acha legal o papo todo do budismo, gosta de falar sobre assuntos abstratos e ocultos, adora Tom Jobim e companhia, tem mil cds de bossa nova, e além disso, toca Tom Jobim e companhia, inclusive Chega de saudade. E olha pra mim como se eu fosse a pessoa mais inteligente e bonita do mundo, afinal eu disse uma frase que ele tinha dito minutos atrás para seus amigos. Como somos tão parecidos? Poderíamos ficar horas filosofando e falando sobre as coisas malucas que eu costumo dizer, e tenho que me controlar pra não chocar certas pessoas. Pra completar, ele é bonitinho e mora sozinho. Pareceria ter sido mandado pelos céus, se não fosse um detalhe que insiste em ser a coisa mais importante para mim: não tem graça. Ele não brilha quando fala. Seu sorriso não tem nada demais e ele não arranca nenhum sorriso de mim. E não adianta, mesmo que a minha parte racional que sempre fala alto diga que desperdiço possíveis homens da minha vida demais, não consigo ficar com um cara que não me dá tesão. E pra me dar tesão, o cara tem que ter tesão pela vida, além de um respeito danado e um jeito especial de me tratar, juntando apetite e doçura. Lógico que mulher gosta de se sentir carne também. E um cara interessante sabe mostrar isso de um jeito suave.
Preciso de homens felizes, a felicidade me atrai. Não estou falando de caras patetas e tolos demais pra dizer alguma coisa gentil, com piadas grosseiras demais pra agradar qualquer mulher que se ame. Freqüentemente morro de rir das asneiras que ouço de certos caras, mas o que mexe um pouco comigo são as besteirinhas direcionadas especificamente e especialmente para mim. A graça não está somente no conteúdo do que dizem, tampouco em cantadas manjadas. A graça está no olhar de safado que só você percebe, no sorrisinho de canto de boca ou mesmo na grande gargalhada cheia de charme. Naquele sorriso terno, morrendo de vontade de conquistar a vida. No jeito de fazer com que qualquer frase boba seja a coisa mais gostosa de ser ouvida. Tudo com bastante inteligência, emocional principalmente.
Não gosto de homens sombrios e deprimidos. Homem serve é pra me divertir, pra me deixar melhor. Do contrário, pra quê que eu vou querer um? Fico sozinha mesmo, curtindo as minhas próprias melancolias. É claro que o inverso também é verdadeiro: eu não tenho a mínima vocação pra ficar enchendo saco de homem com chatices. Se eu estiver com alguém de quem eu goste, quero mais é deixá-lo feliz.
Uma vez num bar, eu e minhas amigas ficamos prestando atenção num casal que estava com cara de quem comeu e não gostou. Elaboramos teorias de problemas pelos quais eles estavam passando, confesso, super preocupadas com a vida alheia. Mas era muito estranho, cada um com a cara pior que a do outro, como se tivessem brigado, sentados frente a frente, mas sem se olharem, simplesmente calados. Depois de muito tempo o cara abriu a boca. Pra pedir a conta pro garçom. E sem nem pedir a opinião da mulher. Depois se levantaram, e foram embora, veja só, de “mãos dadas”. Tudo bem, pode ser que sejam felizes do jeito deles, mas eu duvido. Pra mim são dois infelizes, unidos por alguma força “estranha”, que todos os dias se remoem pelas burradas do passado e não têm coragem pra mudar aquilo. Ô vidinha...